Meus preparativos para a expedição de escalada do Aconcágua, montanha com 6.962 mts, na virada do ano. Periodicamente vou tentar publicar aqui imagens e relatos de viagem. Feliz Ano Novo, Abraço a Todos e Buona Fortuna 2007!!! Ivan Schiappacasse Bornes.

7.1.07

6.962 mts.
CUME - SUMMIT - CUMBRE
04 JANEIRO 2007 - 12:45

A volta foi quase mais dura que a subida. Nao pelas pedras do tamanho de uma TV 29" caindo a poucos metros, nem pelo frio, ou pela completa exaustao.
Era simplesmente duro demais tentar manter o pensamento num passo depois do outro. E disso dependia o retorno, e assim a verdadeira conquista, vitória ou seja lá como se chame.

Depois do cume, depois de horas onde o segredo parece ser manter o cerebro funcionando no mínimo. Depois da luta com fantasmas dentro de mim que tentavam me fazer desistir.

Até o momento em que pisei na última pedra, olhei o horizonte, olhei para baixo e tentei respirar mais fundo ate doer o pulmao, deitei e quase adormeci no vento. Os labios estao rachados, a baba e o liquido do nariz fizeram um bigode de gelo.

Vagamente tentei comandar meu pensamento para o ego, mas nao consegui me sentir melhor. Foda-se, eu pensei. Humildade tambem nao adiantou. Nao fui iluminado nem nada. Qualquer tipo de pensamento que eu achava que sentiria... nada.

Aos poucos o calor volta, as vozes de meus colegas gritando alguma coisa. Sorrio, os labios doem. Levanto, abraçamos uns aos outros.

Tiro algumas fotos. Ajudo aos meus colegas com as fotos deles. Estamos todos abobalhados, parece que estamos em camera lenta. Nos comunicamos por sinais e nos entendemos muito bem. Nos olhamos uns aos outros com olhos arregalados.

Agora chegou o grupo de suecos que encontramos no caminho. O Cume nao é mais exclusivo nosso. OK. Eles tambem mereceram.

O vento sompra mais forte. Quase 14:00 e chegam as nuvens pesadas que todos os dias olhamos rondando o cume.

Entao, somente o retorno interessa. Sei que serao no minimo mais 4 horas ate as tendas do compamento deixamos montado a 6 mil metros, desde onde iniciamos o ataque as 6 da manha.

Apenas larguei minha mochila, fui chorar feito criança. Muito. E rezei agradecendo pela chance que a montanha me deu em tantos sentidos.

Agradeci pela sorte que sempre me acompanha.

E também pedi desculpas por duvidar que sou um favorito de deus. Estou vivo mais uma vez. Desta vez foi uma montanha, a maior que eu pude chegar perto, mas ja tive outras.

Agradeci a montanha. Eu poderia ter falhado na subida e, talvez, tudo bem.
Mas seria por demais frustrante voltar para casa sem ter a chance de tentar o cume devido ao clima, devido a uma lesao, devido a qualquer coisa que nao dependesse 100% de mim.
E assim aconteceu com varias expediçoes muito bem preparadas nas ultimas semanas.

Chorei e rezei, de coraçao. É raro acontecer, e foi supernatural. Obrigado. Fui e voltei para escrever isto quando colegas muito melhor preparados nao conseguiram.
Dos 10 que iniciamos, chegamos 5, atentos e camaradas. Isso significou algo.

Obrigado.

Agora estou num cyber em Mendoza. Fiz check-in num hotel e tomei o primeiro banho depois do dia 25 de dezembro (façam as contas). Provavelmente nas conexoes de aeroporto irei escrever mais alguma coisa. Talvez apague tudo.

Hoje é domingo, e Aerolineas Argentinas esta inoperante. Amanha vou tentar remarcar meus voos para Porto Alegre. Estou contente, satisfeito. É um lindo dia em Mendoza. A cidade esta diferente de como eu lembrava há 15 anos atras. Provavelmente nao foi ela que mudou.
Olhei na ZH que alguns gauchos morreram num acidante em Santa Catarina. Parece que o dourado é a cor da temporada. O Saddam foi executado. Já sei que a mega sena esta acumulada em 50 milhoes. Boa sorte a todos. Eu nao vou jogar. Minha sorte é diferente a prefiro muito mais ela.